terça-feira, 22 de abril de 2008

COLLAGE


Rodrigo Mota nos enviou esta collage.


“A tarefa do surrealismo é arrancar
a linguagem do sistema repressivo
e fazer dela um instrumento de gozo”

Karel Teige

In Textos de Afirmação e de Combate do
Movimento Surrealista Mundial. (coletânea organizada por Mário Cesariny)

ver ainda:

sexta-feira, 18 de abril de 2008

JOYCE MANSOUR: GRITOS E DILACERAÇÕES II


Em português, pouquíssimas traduções de sua obra. Alguns poemas esparsos na web e nos livros: Poesia Érotica em Tradução (José Paulo Paes); Arcanos da Poesia Surrealista ( José Pierre e Jean Schuster. Tradução Antônio Houaiss); e Júlio César uma História Nociva (tradução: Aníbal Fernandes).


As maquinações cegas de tuas mãos
Em meus seios trêmulos
Os lentos movimentos de tua língua paralisada
Em minhas orelhas patéticas
Toda minha beleza afogada em teus olhos sem pupilas
A morte em teu ventre comendo meu cérebro
Tudo isso faz de mim uma moça muito estranha.

de Cris – 1953

Convide-me para passar a noite em sua boca
Conte-me sobre a jovialidade dos rios
Aperte minha língua contra seu olho de vidro
Dê-me sua perna como alento
E depois durmamos irmão de meu irmão
Pois nossos beijos morrem mais rápido que a noite

de Déchirures – 1955

Que phallus tocará o sino
No dia em que dormirei sob uma tampa de chumbo
Derretida em meu medo
Como azeitona no frasco
Fará um frio metálico e feio
Não farei mais amor em uma banheira esmaltada
Não farei mais amor entre parênteses
Nem entre os lábios javaneses de uma grama de primavera
Exsurderarei a morte como uma umidade amante
Delimitada sitiada pelas visões de outubro
Encolherei-me enfim na lama


de Faire signe au machiniste – 1975

Tradução : Roberto Bessa

O meu riso vai alto,
Mais alto que os chapéus dos cardeais
Mais alto que a esperança
Os meus seios riem quando o sol brilha,
Apesar dos meus fatos apesar do meu noivo.
Feia que sou, sou feliz.
Deus e os vampiros
Amam-me."

Tradução: Mário Cesariny

terça-feira, 15 de abril de 2008

JOYCE MANSOUR: GRITOS E DILACERAÇÕES


Joyce Mansour (Joyce Patricia Adès) nasceu em Bowden (Inglaterra) em 1928, apesar de sua nacionalidade egípcia. Após terminar seus estudos, estabelece-se em Paris, onde publica sua primeira coletânea de versos Cris (1953), cuja publicação é aclamada pelos surrealistas na revista Médium. A “étrange demoiselle” é saudada por Breton, Michaux, Mandiargues, Bachelard, Leiris; e fascina a todos que participam, ou não, do último período do movimento com sua beleza incomum e seus versos que traduzem com perfeição as erupções de sua sexualidade vulcânica. Encontram-se em sua obra os mais variados registros de uma exploração sem fim dos profundos abismos do ser humano. O próprio corpo é tomado como um desses abismos, assim, como ela mesma afirma: “o inferno das mulheres começa em seu próprio corpo”. A principal característica de sua obra é uma notável liberdade impregnada de um erotismo macabro; uma ferocidade verbal sem igual: bem mais impetuosa quando a poeta dá livre acesso aos seus obsedantes fantasmas, todos ligados, obviamente, ao sexo e a morte.

A amazona comia seu derradeiro seio
À noite antes da batalha final
Seu cavalo calvo respirava o ar fresco do mar
Escoiceando de ódio relinchando seu medo
Pois os deuses desciam dos montes da ciência
Traziam consigo os homens
E os tanques

***

Febre teu sexo é um caranguejo
Febre os gatos mamam em tuas tetas verdes
Febre a rapidez do movimento de tuas ancas
A voracidade de tuas mucosas canibais
O abraço de teus tubos que estremecem que bradam
Despedaçam meus dedos de couro
Arrancam meus pistons
Febre esponja morta inchada de moleza
Minha boca breve ao longo de tua linha do horizonte
Viajante sem medo em um mar de frenesi

de cris – 1953

Não quero mais seu semblante de sábio
Que me sorri através das velas vazias da infância
Não quero mais as duras mãos da morte
Que me arrastam pelos pés nas brumas do
Espaço
Não quero mais olhos lânguidos que me entrelaçam
Crateras que cospem seus espermas frios de
Fantasmas
Em minha orelha
Não quero mais ouvir as vozes murmurantes das
Quimeras
Não quero mais blasfemar todas as noites de
Lua cheia
Toma-me como refém como círio como
Bebida
Não quero mais maquiar sua verdade
Eu faria o grand écart * para lhe impressionar
Senhor

* Agachamento com as pernas estendidas formando um ângulo de 180 graus.
Passo acrobático muito usado por ginastas e bailarinos.

de Déchirures, 1955

Quero partir sem bagagens para o céu
Meu desgosto asfixia-me porque a minha lingua é pura
Quero partir para longe das mulheres com mãos gordas
Que acariciam meus seios nus
E que cospem sua urina em minha sopa
Quero partir silenciosa à noite
Hibernar nas brumas do esquecimento
Penteada por um rato
Estapeada pelo vento
Tentando crer nas mentiras de meu amante

de Rapaces – 1960

Tradução : Roberto Bessa

sábado, 5 de abril de 2008

VEIAS COMUNICANTES (I)

Allen Ginsberg nu do outro lado do muro
Tomando LSD com cinocéfalos e anjos ofegantes.
No muro se lê: Você não é normal.

Uma nuvenzinha de fumaça negra
Sai da boca de cada passante
E suas mãos presas no passado
Fazem parte da nova paisagem
pintada de verde.
Lê-se no muro: Você é diferente?

Alguns passantes põem negro manto noturno.
Outros andam cheios com o peso do próprio
Silêncio e devoram o sexo da parede.

Eternamente barbado Ginsberg iridescente...
Uivando, nas esquinas, mantras para arranha-céus;
Vomitando pedaços crus da realidade
Ao invés de fantasmagóricos enfeites natalinos.

Mais adiante, no muro, está escrito:
Alguns passantes não conseguem ver além
Dos muros. Por isso
Abaixo os muros,
Isto é Poesia.