quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Chá de Mandraca com Hegel


desenho: Roberto Bessa

terça-feira, 23 de outubro de 2007

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

PANTEÃO DA ORDEM DOS MANEQUINS OBSEDANTES

Os manequins mais complexos da intempérie procuram o ponto de epifania nas infinitas máscaras do consumo. Superposição de cinqüenta e nove realidades numa posição desconfortável. Homem-mapeado, mulher-sem-espelho, criança-quase, família-monstruário deslizando pelo shopping: bonecos de um mundo inflável, infinitamente enfeitados em bizarro poente nos bicos das lojas de departamento. São carregados, pelas autoridades competentes, de qualquer forma ou de forma quadrada. Fingem sentados, às vezes, que estão dentro da igreja (uma das realidades) e talvez observem o silêncio de cada um contra todos os silêncios, ou, quem sabe, o silêncio de todos na boca tardia de cada um. O certo é que, todos estão devidamente afogados na acidez cotidiana dos grandes espaços; todos estão aos pés do todo-silencioso cujo testemunho os faz tremer calafrios; estão todos nas mãos de Moneda cujo cheiro os faz sorrir desavergonhadamente.Corpos inteiros ou pela metade da existência plastificada; completamente desprovidos de intimidade, mas completos no ritmo do bate-estaca.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

PORTRAIT IMAGINAIRE DE MALDOROR


Ao nascer degolou o galo com o cuspe
Atropelou o estendido na rua do mamilo
Fez um meticuloso sinal-da-cruz
Com suas mentirosas mãos de coisas mofadas
Após o farto repasto fritou o mestre-sala na avenida
E num sismo de olhos sob a vertigem azul
Devorou a rainha da bateria
Pôs zíperes no pequeno gemido da tarde
E nos grandes lábios do anoitecer
Morreu quando percebeu o rio dento do relógio
Deixando sombras tetraqueridas
Para que retornassem o galo degolado
Para a nova mesmigual decoração do dia seguinte

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

EXECUÇÃO DO BUSTO ANÔNIMO

collage por Roberto Bessa

sábado, 6 de outubro de 2007

VERDADE INSTÁVEL NO REINO DE GADAN

Acontece que, pela manhã, entre cenários e figurinos que movem o juízo de qualquer um, o sol mostra-me os dentes, esmurra meu rosto óbvio e o sono cai longe. Cai como quem cai de uma gigantesca bicicleta de verão, perto do desencaracolar do dia; cai nas proximidades de um espelho que se enrosca para o bote. Uma verdade enquanto me vejo completamente sem usura e me faço visagem: minha barba explode vertiginosamente. Resgato a distância em águas que já não deslocam moinhos; arrasto pesadas lembranças pelos arredores da antiga morada, em busca das curiosas fotografias reveladas pelo processo de esquecimento, mas só me restam teias e algumas pancadas de chuva. Foram-se as cores, apagou-se o tempo. Fundamentos fetais, emaranhados fatais... É uma enorme aranha que salta de minha cabeça. Ei-la, adorável cerebracnídea, bola de pelos negros com infinitas patas, que me presenteia com um biscoitinho da sorte: “o presente ausente das futuras interrogações encontra-se no passado pesado”. A vida está cheia de inevitáveis reminiscências desse tipo.

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

O incólume

Tentava o incólume além do cavalo mudo.
a figura do céu tentava ainda sondar o morteiro,
concorrendo com as pontas dos dedos do parque.
o pôr-do-sol ostentava seu elmo transfigurado,
improvisando o silêncio com seus braços longínquos.

ao atear-se fogo a doce Rosa repousava na lâmpada.
a súbita fisionomia do poeta Régis Bonvicino tentava
captar o muro que pousava no jardim.

uma garota ruiva com aparência de seiva,
apunhalada pelo suave terror do parque
tentava alcançar seus próprios dedos

e o horizonte, com enormes cabelos,
tentava aquietar o imprevisto
e as demais coisas tentadas.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Recordation boulevard

Para o poeta Egelane Damasceno
DIA MUI DADA (16 de junho do ano insano de 1999)
Pergunte aos meus 7 sentidos capitais: onde caberia aqui a palavra bordel?
Um deles então lhe responderia: são 02:58 no relógio strawberry do palhaço da perseguição
O mesmo DIZ AMÉM
As perseguidas idem
E O PENSAMENTO SE FORMA JUNTO ÀS ESCULTURAS AFROCALIPÍGIAS
(ver antromorfoses básicas)
Agora é a hora do objeto que cai, Abra a boca e diga dada, desdurma de touca,
coma Dada y sus hermosas nalgas dada traz a pessoa amada e a entrega em domicílio
DadA-se como Pierre Pinoncelli (?) Antirelógios DO FUTURO, Aliás o Futuro a DadA pertence
Quem elo ????? Dinavomite dadá, ruídos verbais, líquidos psicogástricos que caem com o abrimento espasmódico da mente. Dessa forma Pegue um jornal
Pegue uma tesoura
Pegue uma pedra
...lasque-a na tesoura
...cubra-as com o jornal
...PRONTO! O POEMA DEFUNTO
Cada freguês é um pequeno dramaturgo

Ei-lo
Gran Cabaret

Horas perdidas palavras vencidas Novelas novenas alérgicas Nove velas numa esquina
Momentaneamente aérea Fina poeira e poéticas Imperceptíveis sem eira
Nem beira presepadas amenas Míngua módulo optativo
Pré-trepada secreta uma ponte sobre a mesa de sinuca.Cenas-relâmpago,
leite derramado & outros mistérios gozosos
Inquietante beleza e conflito Pensamentos intravenosos Recém-fome em mesa de bar
Significa desabar Mulheres camaleônicas em chamas enregeladas, calipígias
Há pessoas físicas deslocadas Favas contadas velhas fadas defloradas gentes
insuladas facas amoladas & infinitos gumes nesse Gran Cabaret Chamado

a) poesia absurda e muda
b) vida pelo avesso
c) dia qualquer
d) lamron odnum
e) todas as opções anteriores
f) retorno urobórico de Ulisses
g) todas as alternativas posteriores ou eis porque...

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Minhas precárias formigas escondidas...

Minhas precárias formigas escondidas
no grito para entender o deslocamento
sexual da misteriosa mão de uma mulher.
circunstâncias, maçãs penetradas,
frio adormecido, um lugar de medo
para duas pedras exatas e uma xícara de café.
talvez seja apenas uma xícara de café
ou a pouca escuridão reclinada
sobre uma jovem parturiente...
em suas mãos um bouquet de silêncio.

Mário Cesariny a esbofetear respeitáveis hipócritas

Toco fogo num cigarro para começar incêndio
Minha assuada para debilidade geral
Tomo um trago e leio alguns poemas
Para o fantasma que está logo em frente
Parada (frações de) Louvor e simplificação de Álvares
De Campos e outros (em sentido longitudinal) outros
Outros sítios outras vozes em minha cabeça giratória
Pára-brisas estilhaçados Portugal que flutua
Indizível na diminuta distância
Enquanto afasto o mim impróprio do eu exemplar
Mas não importa! O que importa é o repertório
Amoroso das mulheres fixado no meneio
De seus quadris demasiados
É a mudança repentina da direção do vidro
É o enterro dos telejornais
Afinal o que se leva em conta hoje
É a reles imitação do fogo
Reparo na chama sem preço na ponta
Do palito e seu inestimável valor
Então vou ter com as palavras momentos
Contrários ao bom gosto do freguês
Vislumbres da vida que vibrem como vime
Quando viver é tantas vezes apontado para o nada
Dentro do saco sartreano e outras (as melhores) é sentar-se à mesa
Despreocupado tomar um gelada e deitar chamas no papel
Atentar na cara do sujeito dono do bar
Ávido em saber o que tanto rabisco
Enfim Mário Cesariny ou
A noite inexplicável ou o dia aéreo
Diante dos quais os submarinos da mobília
Estancam narcotizados como velhas flautas azuis
Pois bem! Eis a tua mão indormível
Tua mão sai em liberdade a caminhar por
Lisboa desfibrando sombras investindo
Contra todos os pensamentos
Até chegar ora pois no Chiado.
Talvez venha a ser ela possuída
Por um segredo que ensurdece
Talvez venha a ser ela seguida
Pela cona florestal da cabeleireira
Talvez venha a ser ela conduzida
Pela tempestade dos cotovelos
Ou por uma libanomante chamada
Sobekneferu que porcelana nua
Sobre as águas eqüestres do Nilo
O melhor da festa é que uma data de gente
Aglomera-se em torno de tua mão
No instante mais grave do dia
Talvez venha a ser ela a forma mais
Espontânea do soco escultural
A esbofetear com sal e muitíssimo
Gosto as fuças de respeitáveis hipócritas
Gente civilizadamente mecânicas
Padres misaraves milicos a destripar micos
gente de trapaça policos do logro
advorazes juristas agiotas...
Gente bem-educada que escreve
Eternamente com suas mãos duplamente vazias
Enfim Mário Cesariny a esmurrar
A corja do lucro das letras do pensamento fraco
Para em seguida bater à porta da lápide
Finda o poema sem mais nem menos
E o dono do bar me traz outra cerveja

Outra cerveja a rua automóveis
Atropelam Sombras que ficavam
À mesa do passado
Desperta o póstumo QUE
Enquanto surreais levam tua mão
Para o dormitório entre duas estrelas
Finalmente fico a dever-te um fim
Um final como quadros ou palavras
Que quedam de quando em vez
E se misturam com pedaços de chão
Restos de noites
E são liquidificados pelo tempo
E se erguem gatos
(animais que esfigem viajantes edipingados)
Uma cena como esta não pode ser
Absorvida pela morte mas
Somente por aqueles que vêem
Um infinito QUE dentro da amendoída
Casca de cada QUE humano